terça-feira, 27 de maio de 2008

Batuqueiros enrustidos


Muitos ignoram, mas o Rio Grande do Sul é o estado com maior número de adeptos das religiões afro (1,6% da população contra 0,08% dos baianos auto-declarados) e com o maior número de terreiros (cerca de 30 mil).

De fato não existe associação dos gaúchos com esta realidade na mídia ou nas ruas. O que torna o assunto algo a ser pouco comentado, encarado com a máxima discrição.

O estado "mais europeu" do Brasil foi desmistificado com o trabalho da fotógrafa Mirian Fichtner que lançou o livro Cavalo de Santo, onde estão retratados dezenas de imagens dos rituais de batuque em solo gaúcho.

A primeira exposição do trabalho foi no Rio de Janeiro.

Esperamos que a segunda seja aqui!




Na foto acima, o trabalho de Pierre Verger, fotógrafo francês que se rendeu à cultura afro-brasileira na Bahia.


sábado, 24 de maio de 2008

Mais comédia, por favor!


Por anos acompanho o trabalho dos alunos do DAD- UFRGS. Vi muitas coisas interessantes, algumas boas e outras ótimas. Das coisas ótimas elegi minhas três peças preferidas: The McKillers Girls (sátira de super-heróis), Uma montagem com textos do Wood Allen (Seis personagens a procura de um autor) e As artimanhas de Arlecchino (em cartaz neste mês de maio). O que estas peças têm em comum: são todas comédias, cada um num estilo diferente.
Além disso, de todas as peças que vi, essas três eram as únicas do gênero.
Então, equipe do DAD, faço um pedido: Ao invés de insistirem nos melodramas e fragmentos de autores como Brecth e Llorca, invistam mais no trabalho com comédia!

terça-feira, 20 de maio de 2008

Regras para o uso dos que frequentam bondes (e ônibus!)


Em 4 de julho de 1883 foi publicada uma crônica de Machado de Assis em que ele listou alguns artigos sobre o bom uso dos bondes. Essas regras se aplicam perfeitamente nos dias de hoje aos usuários de ônibus. Colocarei algumas, mas vale a pena ler todas.

"Art. I - Dos encatarroados

Os encatarroados podem entrar nos bonds com a codição de não tossirem mais de três vezes dentro de uma hora, e no caso de pigarro, quatro.

Quando a tosse for tão teimosa, que não permita limitação, os encatarroados têm dois alvitres: - ou irem a pé, que é bom exercício, ou meterem-se na cama. Também podem ir tossir para o diabo que os carregue. (...)

Art. III - Da leitura dos jornais

Cada vez que um passageiro abrir a folha que estiver lendo, terá o cuidado de não roçar as ventas nos vizinhos, nem levar-lhes os chapéus. Também não é bonito encostá-los no passageiro da frente. (...)

Art. V - Dos amoladores

Toda pessoa que sentir necessidade de contar os seus negócios íntimos, sem interesse para ninguém, deve primeiro indagar do passageiro escolhido para uma tal confidência, se ele é assaz cristão e resignado. No caso afirmativo, pergunta-se-lhe-á se prefere a narração ou uma descarga de pontapés. Sendo provável que ele prefira os pontapés, a pessoa deve imediatamente pespegá-los. No caso aliás extraordinário e quase absurdo, de que o passageiro prefira a narração, o proponente deve fazê-lo minuciosamente, carregando muito nas circustâncias mais triviais, repetindo os ditos, pisando e repisando as coisas, de modo que o paciente jure aos seus deuses não cair em outra. (...)

Art. VII - Das conversas

Quando duas pessoas, sentadas a distância, quiserem dizer alguma coisa em voz alta, terão cuidado de não gastar mais de quinze ou vinte palavras e, em todo caso, sem alusões maliciosas, principalmente se houver senhoras. (...)

Art. VIII - Das pessoas com morrinha

As pessoas que tiverem morrinha, podem participar dos bonds indiretamente: ficando na calçada e vendo-os passar de um lado para o outro. Será melhor que morem em rua por onde eles passem, porque então podem vê-los mesmo da janela."


quinta-feira, 15 de maio de 2008

O que Clarice não fez por dinheiro...


Nos últimos anos, foram editados muitos escritos de Clarice Lispector, rascunhos, correspondências, textos inéditos... A Editora Rocco publicou textos que Clarice escreveu para os jornais Correio da Manhã, Comício e Diário da Noite nos anos 60.

Para ganhar a vida, recém-divorciada e com dois filhos, aceitou ser ghost-writer da musa da TV Ilka Soares.

Deixou de lado a escrita densa e sensível para construir um tratado de futilidades:


"Uma coisa é certa: nós, mulheres, desejamos e temos o dever de agradar aos homens. Ou, pelo menos, ao homem que amamos, não é verdade? (...) Assim sendo, a preferência masculina deve ser levada em consideração sempre que nos vestirmos e enfeitarmos. (...) Aquilo que os homens detestam: 1) vestido muito justo; 2) pintura excessiva, principalmente nos olhos; 3) modas sofisticadas e complicadas; 4) saltos muito altos; 5) batom exagerado desenhando nova boca e exótica; 6) meias com costura torta; 7) excesso de jóias; 8) decote exagerado; 9) moça desembaraçada demais; 10) mulher sabichona. (arg!!!)


Imagino que deve ter doído mais na Clarice do que em mim...

sexta-feira, 9 de maio de 2008

À querida tia Nelci

Garimpando a coleção de discos da tia Nelci, encontrei um LP de um show gravado em Buenos Aires com Mercedes Sosa, Leon Gieco e Milton Nascimento.
Além de Mercedes Sosa recitando "Cio da Terra", há uma das mais belas versões de "Solo le pido a Dios". Aliás, nunca tinha parado pra pensar na letra dessa música que me tocou bastante:

Sólo le pido a Dios
que el dolor no me sea indiferente,
que la reseca muerte no me encuentre
vacio y solo sin haber hecho lo suficiente.

Sólo le pido a Dios
que lo injusto no me sea indiferente,
que no me abofeteen la otra mejilla
después que una garra me arañó esta suerte.

Sólo le pido a Dios
que la guerra no me sea indiferente,
es un monstruo grande y pisa fuerte
toda la pobre inocencia de la gente.

Sólo le pido a Dios
que el engaño no me sea indiferente
si un traidor puede más que unos cuantos,
que esos cuantos no lo olviden fácilmente.

Sólo le pido a Dios
que el futuro no me sea indiferente,
desahuciado está el que tiene que marchar
a vivir una cultura diferente.

Sólo le pido a Dios
que la guerra no me sea indiferente,
es un monstruo grande y pisa fuerte
toda la pobre inocencia de la gente.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Há um século no Correio do Povo

Desde segunda-feira (5 de maio) o Jornal Correio do Povo está com novo layout. Muito parecido com o da Zero Hora, diga-se de passagem.
Inspirado na coluna "Há 30 anos em ZH", o jornal apresenta agora "Há um século no Correio do Povo", do qual selecionei um trecho:

"Notas Policiaes: Ante-hontem, às 2 e 1/2 horas da tarde, á travessa 2 de Fevereiro, n.15, Magalena de Tal e Dolores de Tal, travaram-se de razões e iam chegar as vias de facto, quando acudiu o agente n.88 e prendeu a agressora, conduzindo-a ao 1ºposto.
Hontem, á tarde, recebeu curativos na ambulancia do 2ºposto, João de Tal, de cor mixta, com 35 annos de idade e que apresentava uma contusão no olho esquerdo produzido por couce de cavallo".

segunda-feira, 5 de maio de 2008

É hoje: Ciranda de Pedra


O romance da Lygia F. Telles é tão bom que merece uma segunda adaptação. A primeira foi em 1981, com a eterna Lucélia Santos no lugar da protagonista Virginia . Depois de uma participação em alma gêmea, vamos ver se a novata Tammy di Calafiori consegue dar conta do papel que foi de Lucélia. Já Ana Paula Arósio será Laura, antes vivida por Eva Wilma.

A Eutanásia (de Laura) e a homossexualidade de Letícia (Mônica Torres em 1981 e Paola Oliveira em 2008) ficará de fora tendo em vista o horário das seis.

Sobre a origem do romance e o nome a própria Lygia explicou: "Eu ia andando por uma rua muito elegante daqui de São Paulo e vi uma casa sendo demolida. Eu me lembro que a casa tinha um jardim lindo e uma escada de mármore. A casa já estava sem a parede da frente, exposta. Fiquei muito comovida com aquela imagem e pensei comigo: aqui nesta casa gente amou, viveu, dançou e chorou. Aí, percebi uma fonte débil, com água ainda jorrando. Em volta dela, havia pequenos anões de jardim, que estavam de mãos dadas, em uma ciranda que fechava a fonte. Pensei em uma jovem querendo entrar nessa ciranda de pedra e não conseguindo. Foi assim que nasceu a Virgínia". E os anões, por sua vez: Otávia, Bruna, Letícia, Afonso e Conrado.